Entrevista
Ivan Alekxei

“O mais importante não é o estilo, mas a música que se faz nele”

“O mais importante não é o estilo, mas a música que se faz nele”
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Ivan Alekxei é uma das vozes mais promissoras do music-hall angolano. Conhecido inicialmente como um intérprete, o músico descobriu as suas habilidades de composição e já vários sucessos a emocionar o coração dos angolanos. Faz parte do Projecto Kamuputu, em parceria com os DJ Smouk e Ricardo Alves e o músico Gari Sinedima, mas já tem o seu álbum em forja, no qual contará com a participação do angolano Kyaku Kyadaff.

Quando e como é que começa a sua viagem pelo mundo da música?

A minha viagem começa muito cedo, na antiga Igreja Maná, a actual Josafat, onde toquei bateria durante 10 anos, e sempre tive dos meus líderes do grupo coral o incentivo de cantar. Só que eu nunca quis cantar simplesmente. Na verdade, não me via a cantar sem tocar, porque tinha a impressão de que quem canta é o líder, posição na qual nunca quis estar. Mas uma vez, faltou o líder do grupo coral e eu era a pessoa mais experiente naquele culto. Então, tive que largar a bateria para liderar o louvor. Desde aquele dia, comecei a ter prazer em enfrentar palcos e largar a minha voz, mas isso já faz mesmo muitos anos, porque eu comecei a tocar bateria aos 9 anos de idade, na igreja. Depois disso, comecei a actuar em bares no Lubango, altura em que comecei a dar os primeiros passos como profissional no mundo da música. Na época, fazia voz e violão, com um amigo, Eldísio Vainer, mas depois, por causa da minha formação em Engenharia Civil, visto que na altura não havia ainda no Lubango um curso superior neste ramo académico, voltei para Luanda, enquanto aguardava os documentos do ensino médio, embora planeasse estudar no exterior. Entretanto, eu e o meu amigo, vulgo Mísio, fomos um dos primeiros alunos da Universidade Óscar Ribas, no curso de Engenharia Civil. Mas o curso de Engenharia Civil rouba muito tempo, e como isso nunca foi a minha maior paixão, depois de um ano afastado da música, eu não aguentei e tranquei o meu último ano na universidade e pedi demissão do local em que trabalhava, porque eu precisava mesmo de voltar a fazer música.

Disse que por vontade de fazer música decidiu anular a formação em Engenharia Civil. Sente-se mais músico do que arquitecto?

Sempre fui mais músico do que arquitecto. A arquitectura é arte e também uma grande paixão, no sentido de viajar ao fazer um esboço, uma planta, imagino-me lá dentro e certamente é isso que mais aprecio, ainda faço projectos, mas não é o que quero fazer. Que me contactem apenas como músico.

Começou como intérprete, mas agora conhece-se o Ivan como compositor. Como foi essa transição?

A minha entrada para a composição reflecte muito aquilo que sou como pessoa. É que eu não gosto de ser dependente. No princípio eu não tinha noção do que era compor, e por essa razão eu pedia ajuda a muitas pessoas, que já compunham, mas não tinham muita paciência. Então, uma vez eu pensei comigo mesmo e certifiquei-me de que também tenho cabeça. Pus-me a pensar e comecei a compor, tudo mesmo porque as pessoas se recusavam a dar letras. Olha que, afinal havia mesmo ali um compositor adormecido. No fundo, agradeço a Deus por ter passado por isso, porque são essas pequenas dificuldades que nos ajudam a sermos o que somos hoje. Refira-se ainda que a minha entrada na composição foi marcada pelo projecto “Kamutupu”, que comecei com o DJ Smouk, só mais tarde é que convidamos o Gari Sinedima a juntar-se a nós, sendo que posteriormente nasceu a ideia de também integrar o DJ Ricardo Alves.

Mas como é que surge o interesse de interpretar músicas e quais os artistas e estilos que lhe levaram por esse lado?

Eu ouso dizer que sempre fui um apreciador de música, se calhar até já fui mais. Sempre tive um bom gosto de família, naquilo que é ouvir música. Gosto da composição e acho que tem mais sentido, e por isso é que se eternizam. Entretanto, este gosto e tendência para interpretação surgiu por causa daquilo que eu costumava ouvir e sou ainda um músico versátil. Eu me identifico com o sentimento, independentemente de ser House, Semba, AfroJazz ou qualquer outro estilo musical. O mais importante não é o estilo, mas a música que se faz nele, isso sim é a coisa interessante. Nestes concertos de bares, por exemplo, canto de tudo. Vou desde André Mingas, Paulo Matomina, e de tantos outros que me interessam. Eu sempre gostei de Semba, mas não é algo que eu me via a fazer como artista. Entretanto, com o andar da idade, percebe-se que há toda uma necessidade de fazer algo que é da cultura, algo que seja nosso, e fruto dessa inclinação às raízes é a música “Meu Kota”, do Disco 100% Angolano, de Chico Viegas, tem tido boa receptividade por parte do público, o que deixa-me muito satisfeito. Na verdade não é apenas uma música, mas a minha carreira tem tido boa receptividade.

“É importante que o artista se imponha no mercado”

Acredito que os meios de comunicação têm feito a sua parte, sim. Primeiro, para exigir que passem a sua música, é necessário que essa tenha qualidade. Dificuldades existem para todos, mas aqueles que conseguiram, respeita-se pelo trabalho.

Essa transição tem também a ver com a necessidade de se querer firmar de forma ainda mais original

Sim, claro. É importante que o artista se imponha no mercado, e até acho bonito quando ouço dizer que o mercado está duro, não pela negativa. Eu respeito muito a geração que nos antecedeu, por ser ainda a minha referência, mas eu valorizo muito a nossa geração. É uma pena que se fechem portas para muitos talentos que temos, uma vez que os jovens estão com uma enorme vontade de darem o seu melhor, mas muitas das vezes não lhes é permitido. Porém, importa-nos reconhecer que a composição tem que melhorar. Nós não podemos estar presos em meias palavrinhas. Fala-se muito em problemas do país, sim, existem, mas acredito que muita coisa mudou até cá. Hoje em dia, por exemplo, temos muitos jovens formados, daí a necessidade de não se cantar qualquer coisa. Antigamente não havia tanta gente para as críticas, até porque na sua maioria não entendiam as letras, mas, actualmente, temos pessoas que entendem das coisas e um público bastante exigente, pelo que importa referir que, as pessoas já não andam só atentas à beleza exterior do artista, porém querem de igual modo perceber o que ele tem de conteúdo, o que transmite. Sendo assim, a composição exige que as pessoas se superem, mas fico triste por aqueles que, por falta de capacidade acabam fechados. Devemos deixar do imediatismo, de fazer músicas e vídeo-clips sem qualidade, querendo apenas estar no auge e ser os mais importantes.

Já agora, quais são os artistas da nova geração que aprecia?

Aprecio muitos, mas podem-me fugir alguns e só espero que isso não fira sensibilidades. Talvez não devesse ser assim, mas eu costumo a associar o artista à pessoa, porque o artista é um todo, não apenas a pessoa que coloca a voz num instrumental. Há que ver a maneira como anda e lida com as pessoas. Dessa forma, falando de trabalhos existentes e de artistas que admiro muito por não fazerem o que é dos outros, tenho um enorme consideração pelo Ndaka Yo Wiñi, Toty Sa´Med, para um grande músico, Totó, Paulo Matomina, Gabriel Tchiema, muito rico musicalmente, aprecio também a grande luta do Anselmo Ralph, e claro, gosto muito das suas músicas. Eu admirava mais o C4 Pedro pelo que fazia anteriormente, mas isso não quer dizer que ele tenha deixado de ser um bom músico. Há aqueles também que admiro, não muita pela musicalidade, mas pela capacidade de gerirem a carreira que têm, porque não é fácil.

Acredita que as rádios, televisão e outros meios têm feito o seu papel na promoção da música nacional?

Acredito que os meios de comunicação têm feito a sua parte, sim. Primeiro, para exigir que passem a sua música, é necessário que essa tenha qualidade. Dificuldades existem para todos, mas aqueles que conseguiram, respeita-se pelo trabalho. Mas quando o artista acredita em si e sabe que a sua música chega ao coração das pessoas, não precisa de se preocupar se ela vai tocar ou não. Há um trecho da música “Meu kota” que diz “até para a tua música tocar, é necessário ter dinheiro”. As pessoas interpretam isso como que temos que pagar a rádio ou televisão, mas é caro gravar uma música. Não é fácil pagar as sessões de estúdio, a masterização, os músicos, e agora com a dificuldade das divisas, querer misturar fora... Mas, por outro lado, a mídia peca quando põe tudo no mercado. Na minha opinião, os meios que divulgam a música devem passar a ser mais exigentes e equilibrados, pois se precisa de qualidade, porque não faz sentido ligar a rádio e ouvir um Paulo Flores, mas de seguida algo que não tem nada a ver. De facto, eu sou a favor de que a música não é feita para um grupo, mas para a sociedade, para pessoas de todas as idades, e de que deveria ser mais divulgada nos nossos bairros.

Eu respeito muito a geração que nos antecedeu, por ser ainda a minha referência, mas eu valorizo muito a nossa geração. É uma pena que se fechem portas para muitos talentos que temos, uma vez que os jovens estão com uma enorme vontade de darem o seu melhor, mas muitas das vezes não lhes é permitido.

Como avalia a receptividade do seu trabalho?

Tenho recebido muitas felicitações pelo meu trabalho, pela música que está a tocar agora, principalmente. O que mais me interessava é que a mensagem chegasse no coração das pessoas, o que está notável, e dizer que pretendo que as pessoas me conheçam mais como artista, visto que têm sido elas o meu maior incentivo e de quem recebo muita garra. É justo que se ganhe naquilo que se faz, mas na verdade a intenção é transmitir às pessoas aquilo que é a minha realidade e a de muita gente. Na música referencio as mães e tantas outras pessoas que estão engajadas na luta pela sobrevivência, pelo que a minha mãe emocionou-se a ouvir.

Já pensou em levar a sua música para fora de Angola?

Naturalmente que sim. Do meu álbum constam músicas em espanhol, e as pessoas questionam sobre isso pelo facto de eu defender o resgate da cultura nacional, mas dizer que existem línguas, por mais que não aceitemos, são muito importantes e internacionais, no caso do Inglês, Espanhol e Francês. Por razão a isso, pretendo através dessas línguas passar informações a outros povos, visto que a versatilidade do músico também passa por cantar em outras línguas. É um desafio. Para já, tenho poucas participações no meu CD. Fora Kyaku Kyadaff, farão parte os brasileiros Xande de Pilares e Bruno do Sorriso Maroto, mesmo já a pensar na carreira internacional. Entretanto, aproveito dizer que o CD está rico em mensagens e musicalidade.

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Andrade Lino

Jornalista

Estudante de Língua Portuguesa e Comunicação, amante de artes visuais, música e poesia.

Ivan Alekxei é uma das vozes mais promissoras do music-hall angolano. Conhecido inicialmente como um intérprete, o músico descobriu as suas habilidades de composição e já vários sucessos a emocionar o coração dos angolanos. Faz parte do Projecto Kamuputu, em parceria com os DJ Smouk e Ricardo Alves e o músico Gari Sinedima, mas já tem o seu álbum em forja, no qual contará com a participação do angolano Kyaku Kyadaff.

Quando e como é que começa a sua viagem pelo mundo da música?

A minha viagem começa muito cedo, na antiga Igreja Maná, a actual Josafat, onde toquei bateria durante 10 anos, e sempre tive dos meus líderes do grupo coral o incentivo de cantar. Só que eu nunca quis cantar simplesmente. Na verdade, não me via a cantar sem tocar, porque tinha a impressão de que quem canta é o líder, posição na qual nunca quis estar. Mas uma vez, faltou o líder do grupo coral e eu era a pessoa mais experiente naquele culto. Então, tive que largar a bateria para liderar o louvor. Desde aquele dia, comecei a ter prazer em enfrentar palcos e largar a minha voz, mas isso já faz mesmo muitos anos, porque eu comecei a tocar bateria aos 9 anos de idade, na igreja. Depois disso, comecei a actuar em bares no Lubango, altura em que comecei a dar os primeiros passos como profissional no mundo da música. Na época, fazia voz e violão, com um amigo, Eldísio Vainer, mas depois, por causa da minha formação em Engenharia Civil, visto que na altura não havia ainda no Lubango um curso superior neste ramo académico, voltei para Luanda, enquanto aguardava os documentos do ensino médio, embora planeasse estudar no exterior. Entretanto, eu e o meu amigo, vulgo Mísio, fomos um dos primeiros alunos da Universidade Óscar Ribas, no curso de Engenharia Civil. Mas o curso de Engenharia Civil rouba muito tempo, e como isso nunca foi a minha maior paixão, depois de um ano afastado da música, eu não aguentei e tranquei o meu último ano na universidade e pedi demissão do local em que trabalhava, porque eu precisava mesmo de voltar a fazer música.

Disse que por vontade de fazer música decidiu anular a formação em Engenharia Civil. Sente-se mais músico do que arquitecto?

Sempre fui mais músico do que arquitecto. A arquitectura é arte e também uma grande paixão, no sentido de viajar ao fazer um esboço, uma planta, imagino-me lá dentro e certamente é isso que mais aprecio, ainda faço projectos, mas não é o que quero fazer. Que me contactem apenas como músico.

Começou como intérprete, mas agora conhece-se o Ivan como compositor. Como foi essa transição?

A minha entrada para a composição reflecte muito aquilo que sou como pessoa. É que eu não gosto de ser dependente. No princípio eu não tinha noção do que era compor, e por essa razão eu pedia ajuda a muitas pessoas, que já compunham, mas não tinham muita paciência. Então, uma vez eu pensei comigo mesmo e certifiquei-me de que também tenho cabeça. Pus-me a pensar e comecei a compor, tudo mesmo porque as pessoas se recusavam a dar letras. Olha que, afinal havia mesmo ali um compositor adormecido. No fundo, agradeço a Deus por ter passado por isso, porque são essas pequenas dificuldades que nos ajudam a sermos o que somos hoje. Refira-se ainda que a minha entrada na composição foi marcada pelo projecto “Kamutupu”, que comecei com o DJ Smouk, só mais tarde é que convidamos o Gari Sinedima a juntar-se a nós, sendo que posteriormente nasceu a ideia de também integrar o DJ Ricardo Alves.

Mas como é que surge o interesse de interpretar músicas e quais os artistas e estilos que lhe levaram por esse lado?

Eu ouso dizer que sempre fui um apreciador de música, se calhar até já fui mais. Sempre tive um bom gosto de família, naquilo que é ouvir música. Gosto da composição e acho que tem mais sentido, e por isso é que se eternizam. Entretanto, este gosto e tendência para interpretação surgiu por causa daquilo que eu costumava ouvir e sou ainda um músico versátil. Eu me identifico com o sentimento, independentemente de ser House, Semba, AfroJazz ou qualquer outro estilo musical. O mais importante não é o estilo, mas a música que se faz nele, isso sim é a coisa interessante. Nestes concertos de bares, por exemplo, canto de tudo. Vou desde André Mingas, Paulo Matomina, e de tantos outros que me interessam. Eu sempre gostei de Semba, mas não é algo que eu me via a fazer como artista. Entretanto, com o andar da idade, percebe-se que há toda uma necessidade de fazer algo que é da cultura, algo que seja nosso, e fruto dessa inclinação às raízes é a música “Meu Kota”, do Disco 100% Angolano, de Chico Viegas, tem tido boa receptividade por parte do público, o que deixa-me muito satisfeito. Na verdade não é apenas uma música, mas a minha carreira tem tido boa receptividade.

“É importante que o artista se imponha no mercado”

Acredito que os meios de comunicação têm feito a sua parte, sim. Primeiro, para exigir que passem a sua música, é necessário que essa tenha qualidade. Dificuldades existem para todos, mas aqueles que conseguiram, respeita-se pelo trabalho.

Essa transição tem também a ver com a necessidade de se querer firmar de forma ainda mais original

Sim, claro. É importante que o artista se imponha no mercado, e até acho bonito quando ouço dizer que o mercado está duro, não pela negativa. Eu respeito muito a geração que nos antecedeu, por ser ainda a minha referência, mas eu valorizo muito a nossa geração. É uma pena que se fechem portas para muitos talentos que temos, uma vez que os jovens estão com uma enorme vontade de darem o seu melhor, mas muitas das vezes não lhes é permitido. Porém, importa-nos reconhecer que a composição tem que melhorar. Nós não podemos estar presos em meias palavrinhas. Fala-se muito em problemas do país, sim, existem, mas acredito que muita coisa mudou até cá. Hoje em dia, por exemplo, temos muitos jovens formados, daí a necessidade de não se cantar qualquer coisa. Antigamente não havia tanta gente para as críticas, até porque na sua maioria não entendiam as letras, mas, actualmente, temos pessoas que entendem das coisas e um público bastante exigente, pelo que importa referir que, as pessoas já não andam só atentas à beleza exterior do artista, porém querem de igual modo perceber o que ele tem de conteúdo, o que transmite. Sendo assim, a composição exige que as pessoas se superem, mas fico triste por aqueles que, por falta de capacidade acabam fechados. Devemos deixar do imediatismo, de fazer músicas e vídeo-clips sem qualidade, querendo apenas estar no auge e ser os mais importantes.

Já agora, quais são os artistas da nova geração que aprecia?

Aprecio muitos, mas podem-me fugir alguns e só espero que isso não fira sensibilidades. Talvez não devesse ser assim, mas eu costumo a associar o artista à pessoa, porque o artista é um todo, não apenas a pessoa que coloca a voz num instrumental. Há que ver a maneira como anda e lida com as pessoas. Dessa forma, falando de trabalhos existentes e de artistas que admiro muito por não fazerem o que é dos outros, tenho um enorme consideração pelo Ndaka Yo Wiñi, Toty Sa´Med, para um grande músico, Totó, Paulo Matomina, Gabriel Tchiema, muito rico musicalmente, aprecio também a grande luta do Anselmo Ralph, e claro, gosto muito das suas músicas. Eu admirava mais o C4 Pedro pelo que fazia anteriormente, mas isso não quer dizer que ele tenha deixado de ser um bom músico. Há aqueles também que admiro, não muita pela musicalidade, mas pela capacidade de gerirem a carreira que têm, porque não é fácil.

Acredita que as rádios, televisão e outros meios têm feito o seu papel na promoção da música nacional?

Acredito que os meios de comunicação têm feito a sua parte, sim. Primeiro, para exigir que passem a sua música, é necessário que essa tenha qualidade. Dificuldades existem para todos, mas aqueles que conseguiram, respeita-se pelo trabalho. Mas quando o artista acredita em si e sabe que a sua música chega ao coração das pessoas, não precisa de se preocupar se ela vai tocar ou não. Há um trecho da música “Meu kota” que diz “até para a tua música tocar, é necessário ter dinheiro”. As pessoas interpretam isso como que temos que pagar a rádio ou televisão, mas é caro gravar uma música. Não é fácil pagar as sessões de estúdio, a masterização, os músicos, e agora com a dificuldade das divisas, querer misturar fora... Mas, por outro lado, a mídia peca quando põe tudo no mercado. Na minha opinião, os meios que divulgam a música devem passar a ser mais exigentes e equilibrados, pois se precisa de qualidade, porque não faz sentido ligar a rádio e ouvir um Paulo Flores, mas de seguida algo que não tem nada a ver. De facto, eu sou a favor de que a música não é feita para um grupo, mas para a sociedade, para pessoas de todas as idades, e de que deveria ser mais divulgada nos nossos bairros.

Eu respeito muito a geração que nos antecedeu, por ser ainda a minha referência, mas eu valorizo muito a nossa geração. É uma pena que se fechem portas para muitos talentos que temos, uma vez que os jovens estão com uma enorme vontade de darem o seu melhor, mas muitas das vezes não lhes é permitido.

Como avalia a receptividade do seu trabalho?

Tenho recebido muitas felicitações pelo meu trabalho, pela música que está a tocar agora, principalmente. O que mais me interessava é que a mensagem chegasse no coração das pessoas, o que está notável, e dizer que pretendo que as pessoas me conheçam mais como artista, visto que têm sido elas o meu maior incentivo e de quem recebo muita garra. É justo que se ganhe naquilo que se faz, mas na verdade a intenção é transmitir às pessoas aquilo que é a minha realidade e a de muita gente. Na música referencio as mães e tantas outras pessoas que estão engajadas na luta pela sobrevivência, pelo que a minha mãe emocionou-se a ouvir.

Já pensou em levar a sua música para fora de Angola?

Naturalmente que sim. Do meu álbum constam músicas em espanhol, e as pessoas questionam sobre isso pelo facto de eu defender o resgate da cultura nacional, mas dizer que existem línguas, por mais que não aceitemos, são muito importantes e internacionais, no caso do Inglês, Espanhol e Francês. Por razão a isso, pretendo através dessas línguas passar informações a outros povos, visto que a versatilidade do músico também passa por cantar em outras línguas. É um desafio. Para já, tenho poucas participações no meu CD. Fora Kyaku Kyadaff, farão parte os brasileiros Xande de Pilares e Bruno do Sorriso Maroto, mesmo já a pensar na carreira internacional. Entretanto, aproveito dizer que o CD está rico em mensagens e musicalidade.

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