Caneta e Papel
Crónica

A deselegância da verdade

A deselegância da verdade
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Nestes tempos de frenesim global com COVID, Trump, Bolsonaro, JLO, BESA, etc, vemos erros e mentiras a serem promulgados como verdades.

Estas mentiras e erros são ditos como verdades por jornalistas, comentadores, senhores de gravata maior ou menor, mas a mentira, o erro, não deixa de ser erro por muito que se repita. O erro, a mentira, não se transforma em verdade jamais.

Vemos cientistas a tirarem conclusões sem garantia da ciência, vemos jornalistas a falarem por juízes, quase-juízes a falarem de memória aproximada, especialistas da Angola profunda que nunca saíram dos seus gabinetes de Helsinquia, vemos a divulgação de idiotices imensas e não reagimos, toleramos porque amanhã há mais um idiota a transformar cobre em ouro sob o aplauso frenético de todos.

Como um moderno Clube da Má Língua de Dostoievsky, ouvimos os enredos cínicos da mentira de hoje e ansiamos pela estupidez do jogo da adivinhação de amanhã, ansiamos sempre pelas previsões desnecessárias de ditos especialistas com afirmações obtusas na tentativa sempre bem-sucedida do exagero, sempre sedentos de escândalo fácil, ignóbil, tudo à distância de um clique.

De que serve uma verdade verdadeira? Uma verdade que teimosamente continua a ser verdade? De que serve? Coisa aborrecida.

Todos preferimos acreditar na descoberta de água nos asteroides do que enfrentar a maka da água no Tala Hadi, nos extraterrestres que habitam entre nós e são actores de Hollywood, do que as crianças de rua que vasculham o lixo dos nossos excessos.

O erro é mais dinâmico, mais apetecível. Umas vezes disfarçado de facto mundano onde 10 se multiplica por 1000, sem dano para ninguém porque ninguém sai do seu sofá para ir contar os votos no Texas, os mortos dos terramotos, medir a temperatura do mar ou chatear-se com os terroristas islâmicos. Nem pensar, muito menos com a pandemia à solta lá fora. Todos preferimos acreditar na descoberta de água nos asteroides do que enfrentar a maka da água no Tala Hadi, nos extraterrestres que habitam entre nós e são actores de Hollywood, do que as crianças de rua que vasculham o lixo dos nossos excessos. Preferimos os líderes com passados sinistros e pecaminosos do que os milhares de funcionários públicos com salários em atraso. Preferimos gente que fala por todos e não diz coisa nenhuma.

Queremos as letras gordas e fotomontagens, queremos o segredo grátis e miraculoso para curar o pé de atleta e receitas de bolo que não levam… bolo.

Queremos ter Wi-Fi que isso da saúde vemos depois, queremos ser informados de tudo, mesmo que esse tudo não nos traga nada.

6galeria

Victor Amorim Guerra

Escritor

Autor do livro “Contos do Céu e da Terra”, obra vencedora da edição 2012 do Prémio Sonangol de Literatura, Victor Amorim Guerra transmite nos seus escritos, de pendor humanista, uma mensagem de paz, solidariedade e amor ao próximo.

Nestes tempos de frenesim global com COVID, Trump, Bolsonaro, JLO, BESA, etc, vemos erros e mentiras a serem promulgados como verdades.

Estas mentiras e erros são ditos como verdades por jornalistas, comentadores, senhores de gravata maior ou menor, mas a mentira, o erro, não deixa de ser erro por muito que se repita. O erro, a mentira, não se transforma em verdade jamais.

Vemos cientistas a tirarem conclusões sem garantia da ciência, vemos jornalistas a falarem por juízes, quase-juízes a falarem de memória aproximada, especialistas da Angola profunda que nunca saíram dos seus gabinetes de Helsinquia, vemos a divulgação de idiotices imensas e não reagimos, toleramos porque amanhã há mais um idiota a transformar cobre em ouro sob o aplauso frenético de todos.

Como um moderno Clube da Má Língua de Dostoievsky, ouvimos os enredos cínicos da mentira de hoje e ansiamos pela estupidez do jogo da adivinhação de amanhã, ansiamos sempre pelas previsões desnecessárias de ditos especialistas com afirmações obtusas na tentativa sempre bem-sucedida do exagero, sempre sedentos de escândalo fácil, ignóbil, tudo à distância de um clique.

De que serve uma verdade verdadeira? Uma verdade que teimosamente continua a ser verdade? De que serve? Coisa aborrecida.

Todos preferimos acreditar na descoberta de água nos asteroides do que enfrentar a maka da água no Tala Hadi, nos extraterrestres que habitam entre nós e são actores de Hollywood, do que as crianças de rua que vasculham o lixo dos nossos excessos.

O erro é mais dinâmico, mais apetecível. Umas vezes disfarçado de facto mundano onde 10 se multiplica por 1000, sem dano para ninguém porque ninguém sai do seu sofá para ir contar os votos no Texas, os mortos dos terramotos, medir a temperatura do mar ou chatear-se com os terroristas islâmicos. Nem pensar, muito menos com a pandemia à solta lá fora. Todos preferimos acreditar na descoberta de água nos asteroides do que enfrentar a maka da água no Tala Hadi, nos extraterrestres que habitam entre nós e são actores de Hollywood, do que as crianças de rua que vasculham o lixo dos nossos excessos. Preferimos os líderes com passados sinistros e pecaminosos do que os milhares de funcionários públicos com salários em atraso. Preferimos gente que fala por todos e não diz coisa nenhuma.

Queremos as letras gordas e fotomontagens, queremos o segredo grátis e miraculoso para curar o pé de atleta e receitas de bolo que não levam… bolo.

Queremos ter Wi-Fi que isso da saúde vemos depois, queremos ser informados de tudo, mesmo que esse tudo não nos traga nada.

Victor Amorim Guerra

Escritor

Autor do livro “Contos do Céu e da Terra”, obra vencedora da edição 2012 do Prémio Sonangol de Literatura, Victor Amorim Guerra transmite nos seus escritos, de pendor humanista, uma mensagem de paz, solidariedade e amor ao próximo.

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